quarta-feira, 27 de julho de 2011

Viva o Zé Pereira... Viva o Zé Pereira... Zé Pereira é do Carnaval...

Na crônica anterior fiz questão de criticar a memória do brasileiro e o descaso internacional quanto aos talentos que este País possui ou deixaram marcas na história. Ironicamente citei Santos Dumont sem atribuí-lo ao invento do avião, já que o mundo todo acha que foram os irmãos norte-americanos. E atribuí, sim, ao relógio de pulso cujos brasileiros acreditam que tenha sido ele, o que não foi.  E, talvez por este motivo, recebi algumas dicas para comentar sobre algo reconhecidamente brasileiro, ou seja: os blocos de rua e o carnaval.

Recentemente pude apreciar in locun as Marchas Populares de Lisboa (também forte expressão em Setúbal e arredores) que ocorrem nas festas do mês de Junho e são desfiles populares ao som de marchas populares, como o nome já diz. A princípio julguei ter origem brasileira por se parecer um pouco com os desfiles das Escolas de Samba, com julgamentos de fantasias, músicas e outros quesitos. Esta possibilidade foi imediatamente descartada já que esta tradição portuguesa remota do século XVIII.

É certo que o carnaval no Brasil é oriundo do entrudo trazido pelos imigrantes portugueses onde vítimas dos festejos eram atacadas por baldes d’água, cinzas e lama. O Entrudo se prolongou pelos séculos e há relatos que afirmam que D. Pedro I e D. Pedro II também eram adeptos às folias, só que mais civilizados, usavam limões-de-cheiro e farinha. Mais tarde tudo isso substituído por confetes e serpentinas. Mas se o entrudo durasse até os dias de hoje, alguns políticos seriam atacados por estrume, não por serem políticos, mas sim para fertilizar as idéias da “Reforma Agrária”.

                                    

É certo também que a “Escola de Samba”, com este título, surgiu em 1928 por Ismael Silva numa roda de amigos, próximo a Escola Normal do Rio de Janeiro, com o célebre pensamento: “Se quem ensina às crianças é chamado de professor, nós que sabemos tudo de samba, também somos mestres, e formamos a Escola de Samba”. O primeiro bloco de rua a se tornar Escola de Samba foi o “Deixa Falar”.


Mas na verdade tudo começou com o português José Nogueira de Azevedo Paredes, dono de uma sapataria na rua São José – Rio de Janeiro. Foi em 1846 que resolveu juntar alguns amigos patrícios e sair pelas ruas tocando bombos e tambores dando origem ao primeiro bloco de rua. 43 anos depois e ainda demasiadamente popular foi licenciado pela polícia do Rio de Janeiro em 1889. Era o Bloco do Zé Pereira, que se estendeu por muitos anos e lembrado até os dias de hoje.

Viva o Zé Pereira! Viva o Zé Pereira ! Zé Pereira é do Carnaval ! Lembrado até os dias de hoje.




Bem, então fica esclarecido que os blocos carnavalescos têm origem no Brasil, mas foi criado por um português. E para que não fiquem dúvidas quanto aos nomes José Nogueira diferenciar de  Zé Pereira, é que em Portugal qualquer grupo que inclua tocadores de bombos chama-se “Zé P’eira”.

Para concluir fica um trecho do livro "Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro" escrito por Vieira Fazenda publicado em 1904 que cita o inventor do bloco de rua: “...recordando com alguns patrícios portugueses resolveu de súbito com eles sair às ruas ao som de zabumbas e tambores dar uma passeata pela cidade aglomerando multidões de foliões, repetindo assim por vários anos seguintes com batidas  de tambores e bombos e sempre com o tradicional:  VIVA O ZÉ PEREIRA... O ZÉ PEREIRA É DO CARNAVAL...”

quarta-feira, 20 de julho de 2011

INVENÇÕES BRASILEIRAS E O DESCASO

Outro dia eu estava futucando o controle da TV e um programa do SBT (Ratinho) me chamou a atenção, sobre um jogo de perguntas do tipo falso ou verdadeiro e por acaso uma pergunta me chamou a atenção: “O italiano Guglielmo Marconi foi o inventor do rádio”. Imediatamente gritei bem alto: FALSO!!!. Para a minha surpresa a resposta era “VERDADEIRO”. Fiquei muito indignado e só não quebrei a TV porque ainda estou pagando as prestações.
Posso até aceitar que os brasileiros não conhecem os grandes inventores do seu País, mas uma emissora de TV colaborar com isto, eu não aceito. O problema principal é que colocam qualquer um para trabalhar nessa área dita como fonte de cultura.
Com certeza eles nunca ouviram falar do brasileiro Padre Landell de Moura(*1), que por acaso é o inventor do rádio e também projetou a televisão. A direção do programa talvez não saiba que a primeira transmissão de um radiotransmissor foi feita em São Paulo entre o bairro de Santana e a Av. Paulista (8 km) e que fora registrado por toda a imprensa, patenteado no Brasil e nos EUA, isso em 1872. Somente dois anos depois, em 1874, é que Marconi, na Itália, mostrou o seu protótipo.  E para monstrar que os brasileiros não conhecem os seus “gênios” e valorizam os estrangeiros, existe apenas uma rua com o nome do inventor do rádio: rua Padre Landell de Moura, no bairro de Vila Formosa em São Paulo e 3 ruas com o nome de Guglielmo Marconi, em Curitiba, Osasco e Taubaté.
      
Bem, pelo menos os Correios lembraram e criaram neste ano de 2011 um selo comemorativo aos 150 anos do nascimento do inventor do rádio, o Padre Landell de Moura.

Outra injustiça que o Brasil comete contra os seus talentos, ou talvez abusar da falta de memória, é sobre outro padre brasileiro que inventou a máquina de escrever. Pois é... foi o Padre Francisco João de Azevedo (*2) quem exibiu na Exposição Geral do Império, no Rio de Janeiro em 1861, a primeira máquina de escrever, onde recebeu a medalha de ouro dentre milhares de objetos apresentados. No ano seguinte na Exposição Internacional de Londres o Padre Azevedo não pode expor o seu invento porque não tinha espaço para este brasileiro nascido na Paraíba. Desiludido, o padre envelheceu vendo o seu invento sendo copiado por estrangeiros. Esqueceram a patente brasileira e deram como inventor da máquina de escrever ao norte-americano Willian Burt, muito estranhamente, 32 anos depois, em 1893, e mesmo assim numa reconstrução pós-morte. O que também não faz muito sentido porque em 1874, 9 anos antes, outro plagiador norte-americano Cristofer Sholes vendeu a patente de um modelo idêntico ao do brasileiro à fábrica Remington que dispenso comentários quanto ao sucesso.

Já que estou falando em padres, também quase foi esquecido o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (*3), nascido em Santos. Desde muito jovem já era mundialmente famoso pela inteligência extraordinária, é considerado a mais bela página da aeronáutica mundial ao inventar e patentear o aeróstato (balão de ar quente), que foi demonstrado no Terreiro do Paço em Lisboa em 1709. Porém, dois anos antes havia registrado outro invento: fazer subir água a toda distância e a qualquer altura, sendo a primeira invenção atribuída a um brasileiro. E o mais interessante foi outro invento deste brasileiro, registrado na Holanda em 1713, de uma máquina para drenar água dos navios. Esta patente só veio a público em 2004 quando na ocasião da vinda da Espanha dos restos mortais do Padre Bartolomeu de Gusmão para a Catedral Metropolitana de São Paulo.


Existem muitos outros gênios brasileiros desconhecidos do próprio brasileiro. Como um bom exemplo Manoel Dias de Abreu(*4) (abreugrafia – 1936 , conhecida Rao X do pulmão) que fora indicado cinco vezes ao prêmio Nobel. Temos também o Júlio Cesar Ribeiro de Souza(*5) que inventou e patenteou o dirigível em 1880, mas estranhamente atribuído o invento a Charles Renard e Arthur Krebs, numa patente na França 3 anos depois. Temos ainda o Hercules Florence(*6), francês radicado em Campinas que inventou a fotografia em 1832 e se desiludiu quando foi atribuído o invento da fotografia aos franceses Daguerre e Niépse três anos depois. Não podemos deixar de comentar também sobre Nélio Nicolai(*7) que inventou o bina ou identificador de chamadas telefônicas em 1982, o que espero não ficar desconhecido como os outros.

Mas nem tudo está esquecido pelos brasileiros. O mais conhecido internacionalmente inventor brasileiro: Alberto Santos Dumont(*8), o inventor do relógio de pulso.


Bravo! Bravo! Heeeeeeeee!! Brasil! Brasil! Brasil!!!


Nota: Acabo de consultar o Wikipédia para ter a certeza deste invento e lá consta que em 1814 o relojoeiro Abraham Breguet fez o primeiro relógio de pulso sob encomenda de Cardina Murat, irmã de Napoleão Bonaparte. Também atribuído o invento a Athoni Patek e Adrien Phillipe em 1868. Cita o Wikipédia que Santos Dumont é apenas o responsável pela popularização do relógio de pulso e afirma que foi o seu amigo Louis Cartier quem o presenteou em 1904 e mesmo assim como modelo feminino.


Pelo andar das coisas é melhor continuarmos brigando pela rapadura(*9) que foi patenteada em 1989 na Alemanha e 1995 nos EUA pela empresa Rapunzel Naturkost o que obriga o Brasil a pagar os justos e merecidos royaities ao estrangeiro dono da marca.

Afinal... “a rapadura é doce, mas não é mole não”.

Obrigado a todos e que tenham um dia bem doce.



*1 – Padre Landell de Moura – (1861 – 1928) nascido em Porto Alegre - RS
*2 – Padre Francisco João de Azevedo – (1814 – 1880) nascido na Paraíba
*3 – Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão – (1685 – 1724) nascido em Santos –SP
*4 – Doutor Manoel Dias de Abreu – (1894 – 1962) nascido no Rio de Janeiro
*5 – Julio Cezar Ribeiro de Souza – (1843 – 1887) nascido em Acará –PA
*6 – Antonie Herculle Romuald Florence – (1804 – 1899) nascido em Nice –FR e radicado no Brasil com o nome de Hércules Florence
*7 – Nélio José Nicolai – nascido em 1940 em Belo Horizonte –MG
*8 – Alberto Santos Dumont – (1873 – 1932) nascido em Palmira –MG (hoje município de Santos Dumont)
*9 – Rapadura – Doce secular do nordeste brasileiro de origem ainda em dúvidas: Açores (PT) ou Canárias (ES)



quarta-feira, 13 de julho de 2011

A BANDEIRA E O BRAZÃO
Muitas são as dúvidas quanto a verdadeira história sobre a Bandeira do Brasil. Mas uma coisa é certa: me ensinaram errado.
Não queria acreditar quando soube que o verde NÃO representava as matas virgens nem o amarelo o ouro do Brasil. Ensinaram-me como se já estivessem prevendo o futuro: “vamos desmatar tudo e fazer um estacionamento prá Copa...”. “cadê o ouro? O gato comeu?”. Como é que pode ser o verde representar Portugal (Casa de Bragança – dinastia D. Pedro I) e o amarelo representar a Áustria (Casa de Habsburgo – dinastia de D. Leopoldina).  Talvez se tivessem me explicado, lá no passado, quando eu ainda era criança, que a atual bandeira brasileira é uma simples modificação do Raimundo (*1) em cima da anterior quando ainda era império, e criada pelo francês Debret (*2), eu não ficaria tão surpreso. Como não existe nenhum documento alterando a representatividade do verde e amarelo, permanece a existente.
                                

Mas a surpresa maior foi constatar que o azul não representava o céu deste Brasil varonil e sim o céu da cidade do Rio de Janeiro. E o mais interessante: com dia e hora marcada (08h30min do dia 19 de novembro de 1889). E por favor, não me venham com reclamações, porque este está escrito lá no Decreto nº 004 de 19/11/1889. E também não venham me dizer que isso é muito antigo, porque a alteração mais recente foi a Lei 8421 de 1992, onde esta alteração só especifica a inclusão de mais estrelas, o resto permanece!!!

E por falar em estrelas... Aquela professora que me ensinou que a estrelinha solitária, acima da faixa branca, representava a capital brasileira deveria ela voltar para a escola e aprender que o Estado do Pará não é a capital do Brasil. Agora venhamos e convenhamos: é uma sacanagem com o Estado do Espírito Santo ser representado pela estrela com o nome de “Intrusa”. Eu até entendi a piada, mas é uma brincadeira de mau gosto, isso é.


E já que este assunto está em pauta, não poderia deixar de citar o Brasão de Armas do Brasil, que, aliás, eu acho muito bonito. Este Brasão vem sempre estampado em documentos oficiais e de fé pública. Ao centro aparecem as cinco estrelas do Cruzeiro do Sul (*3) representando os cinco principais Estados: acima de todos a BA por onde tudo começou, a esquerda MG trazendo as riquezas minerais, a direita como braço forte o RJ, em baixo vem SP sustentando o progresso... e lá no meio, a menor delas o ES com a Intrusa (continuo achando de mau gosto a piada). Sem desmerecer a importância, em volta, com as estrelinhas bem discretas e quase imperceptíveis, vem o resto do país.
Na minha opinião este brasão merece uma atenção política. Já que os políticos estão muito preocupados em criar leis que proíbem fumar até na varanda da sua residência e, por incrível que pareça nos pátios das rodoviárias, para evitar a poluição, enquanto que outros querem a liberação da maconha. Deveriam então retirar o ramo de tabaco (*4) que está do lado direito do brasão. É isso mesmo, os políticos deveriam substituir, não por um ramo de maconha (*5), mas por ramo de soja representando o alimento, cana de açúcar o combustível ecológico ou talvez por um ramo de capim. Tenho certeza de que o povo irá interpretar o ramo de capim como o avanço da pecuária brasileira e não como autopromoção de alguns políticos.

Abraço a todos

*1 – Raimundo Teixeira Mendes - criador da atual Bandeira do Brasil
*2 – Jean-Baptiste Debret – criador da Bandeira do Brasil império
*3 – Cruzeiro do Sul – formado pelas estrelas Gacrux, Pálida, Mimosa, Acrux e Intrometida
*4 – N.Tabacum – originária da América do Sul e matéria-prima do cigarro.
*5 – Maconha – planta cannabis, proibida por ser droga psicoativa, alucinógena e 70% mais hidrocarbonos cancerígenos que o tabaco.