quinta-feira, 3 de novembro de 2011

FEIJOADA

Algumas pessoas ficaram espantadas quando citei num outro post que foi um português quem inventou os blocos e os desfiles de carnaval e que deu origem as “escolas de samba” (ver: Zé Pereira é do Carnaval). É o caso da feijoada que é típico da culinária brasileira e muito apreciado por quem vem ao Brasil. Também já existem espalhados pelo mundo, vários restaurantes servindo esta iguaria, principalmente nos cardápios em Portugal com o nome de “feijoada brasileira” ou “feijoada à brasileira”. Entretanto, mesmo sendo típico do Brasil, historicamente não tem origem brasileira e muito menos originário dos escravos na época do Brasil Império, sendo esta versão uma lenda contemporânea.  

A ORIGEM DA FEIJOADA

Antes mesmo de entrar no assunto sobre a origem da feijoada tem a considerar que o feijão existe a milhares de anos e há 1016 variedades sendo que no Brasil para a tradicional feijoada é utilizado o feijão preto. Também não se pode deixar de comentar que a feijoada não é exclusividade brasileira, pois é prato típico em vários países do mundo podendo-se citar alguns:
 
·        Feijoada Cachupa (Cabo Verde) – Feijão, milho, carne ou peixe e vegetais
·        Feijoada Trasmontana (Portugal) – Feijão vermelho e carne de porco
·        Feijoada Poveira (Portugal) – Feijão branco e carne
·        Feijoada Ibo – (Moçambique) – Feijão local, galinha e camarão
·        Cassolet (França) – Feijão branco e carne
·        Fabada Asturiana (Espanha) – Feijão branco e várias carnes de porco defumadas
·        Fasole Cu Cârnati (Romênia) – Feijão e lingüiça

              Feijoada Cachupa                     Feijoada Trasmontana


              Cassolet                             Fabada Asturiana

A feijoada é um prato que consiste num guisado de feijão com carnes e acompanhado com arroz. A versão brasileira, internacionalmente conhecida, tem origem do Norte de Portugal sendo que no Minho com feijão branco e em Trás-os-Montes com feijão vermelho e, em ambos, é adicionado a carne de porco e chouriço (no Brasil chama-se lingüiça paio).
No Brasil o feijão usado é o preto com vários tipos de carne suína (salgadas) e carne bovina (seca ou de sol) e também acompanha o arroz, farofa, couve refogada (conhecida como couve à mineira), pimenta malagueta e laranja fatiada.


A FEIJOADA BRASILEIRA

Esta versão da feijoada brasileira passou a ter explicações totalmente sem fundamentos quando se diz que era servido aos escravos pelos senhores das fazendas de café, engenhos de açúcar e minas de ouro. Absurdamente dizem que eram adicionados os pés, orelhas, barrigas e rabos suínos por serem “restos” não utilizados na culinária dos senhores. Essa explicação não se sustenta seja por tradição culinária ou pesquisa histórica não passando de lendas romanceadas nas relações sociais e culturais da escravidão no Brasil. Estas partes suínas, chamadas de restos por esses contadores de lendas, eram iguarias muito apreciadas pelos senhores das fazendas e também pelos nobres da Casa Imperial e faziam parte da sua culinária, assim como as outras partes (fígado,tripas, miolos, rins...), também fornecidos para hospitais. Logo, não poderiam ser chamadas de restos. A base da cozinha dos escravos era a farinha de mandioca ou milho adicionado água e mais alguns componentes, inclusive carne (angu) e também o feijão preto que é nativo das Américas. Talvez a inclusão da laranja fatiada tenha origem na culinária dos escravos já que era prática servir a laranja com a comida com o objetivo de se evitar uma doença conhecida como “escorbuto”.

Uma boa prova de que a feijoada brasileira não era preparada com o dito lendário “restos do porco” e servido aos escravos são as propagandas em 1833, no Diário de Pernambuco, dizendo que às quintas-feiras no Hotel Théâtre era servido a “feijoada brasileira”, como um atrativo a boa clientela. Também publicado em 1840 pelo Padre Carapuceiro o artigo onde dizia: “Nas famílias onde se desconhece a verdadeira gastronomia, onde se tomam regabofes, é prática usual e comezinha converter em feijoada os fragmentos do jantar da véspera, ao que chamam enterro dos ossos”. Em 1848, propagandas anunciavam a venda de “toucinhos próprios para feijoada” a 80 réis a libra. Em 1849 no Rio de Janeiro, o Jornal do Comércio informava que era servido no “Novo Café do Comércio” junto ao botequim “Fama do Café com Leite”, todas as terças e quintas-feiras, a pedido de muitos fregueses, "A Bella Feijoada à Brazilleira".



A feijoada de qualquer forma, se popularizou entre todas as camadas sociais no Brasil, sempre com espírito de festa e celebração, longe de rememorar escassez. Ficaram famosas na lembrança, aquelas preparadas no final do século XIX e início do XX, na cidade do Rio de Janeiro, pela baiana Tia Ciata na rua Visconde de Itauna e também do restaurante G Lobo na rua General Câmara (extinto em 1905).


Tia Ciata - Rua Visconde de Itaúna - Rio de Janeiro final do século XIX
É certo que a feijoada tem origem européia, sofreu evoluções e foi incrementada com o passar do tempo e também é constatado que esta fórmula continua em desenvolvimento. No Brasil pode ser percebido este desenvolvimento em todo o território Nacional e como exemplo cita-se São Paulo onde não é mais comum servir a laranja fatiada, a variedade de carnes do guisado é menor, acompanha largas fatias de torresmo frito e ainda uma bisteca (carré de porco). Entretanto, no Rio de Janeiro a receita e a forma de servir permanecem inalteradas, remetendo o paladar a sua história e por isto obrigando os restaurantes dos demais Estados brasileiros a diferenciá-la e chamá-la de “A Verdadeira Feijoada Carioca” como uma referência e atrair clientela.

Obrigado a todos e Boa Noite.


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Um comentário:

  1. Glad to know that the Brazilians with knowledge about their own cuisine.

    Francis Josef
    NY USA

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