Na crônica anterior fiz questão de criticar a memória do brasileiro e o descaso internacional quanto aos talentos que este País possui ou deixaram marcas na história. Ironicamente citei Santos Dumont sem atribuí-lo ao invento do avião, já que o mundo todo acha que foram os irmãos norte-americanos. E atribuí, sim, ao relógio de pulso cujos brasileiros acreditam que tenha sido ele, o que não foi. E, talvez por este motivo, recebi algumas dicas para comentar sobre algo reconhecidamente brasileiro, ou seja: os blocos de rua e o carnaval.
Recentemente pude apreciar in locun as Marchas Populares de Lisboa (também forte expressão em Setúbal e arredores) que ocorrem nas festas do mês de Junho e são desfiles populares ao som de marchas populares, como o nome já diz. A princípio julguei ter origem brasileira por se parecer um pouco com os desfiles das Escolas de Samba, com julgamentos de fantasias, músicas e outros quesitos. Esta possibilidade foi imediatamente descartada já que esta tradição portuguesa remota do século XVIII.
É certo que o carnaval no Brasil é oriundo do entrudo trazido pelos imigrantes portugueses onde vítimas dos festejos eram atacadas por baldes d’água, cinzas e lama. O Entrudo se prolongou pelos séculos e há relatos que afirmam que D. Pedro I e D. Pedro II também eram adeptos às folias, só que mais civilizados, usavam limões-de-cheiro e farinha. Mais tarde tudo isso substituído por confetes e serpentinas. Mas se o entrudo durasse até os dias de hoje, alguns políticos seriam atacados por estrume, não por serem políticos, mas sim para fertilizar as idéias da “Reforma Agrária”.
É certo também que a “Escola de Samba”, com este título, surgiu em 1928 por Ismael Silva numa roda de amigos, próximo a Escola Normal do Rio de Janeiro, com o célebre pensamento: “Se quem ensina às crianças é chamado de professor, nós que sabemos tudo de samba, também somos mestres, e formamos a Escola de Samba”. O primeiro bloco de rua a se tornar Escola de Samba foi o “Deixa Falar”.
Mas na verdade tudo começou com o português José Nogueira de Azevedo Paredes, dono de uma sapataria na rua São José – Rio de Janeiro. Foi em 1846 que resolveu juntar alguns amigos patrícios e sair pelas ruas tocando bombos e tambores dando origem ao primeiro bloco de rua. 43 anos depois e ainda demasiadamente popular foi licenciado pela polícia do Rio de Janeiro em 1889. Era o Bloco do Zé Pereira, que se estendeu por muitos anos e lembrado até os dias de hoje.
Viva o Zé Pereira! Viva o Zé Pereira ! Zé Pereira é do Carnaval ! Lembrado até os dias de hoje.
Bem, então fica esclarecido que os blocos carnavalescos têm origem no Brasil, mas foi criado por um português. E para que não fiquem dúvidas quanto aos nomes José Nogueira diferenciar de Zé Pereira, é que em Portugal qualquer grupo que inclua tocadores de bombos chama-se “Zé P’eira”.
Para concluir fica um trecho do livro "Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro" escrito por Vieira Fazenda publicado em 1904 que cita o inventor do bloco de rua: “...recordando com alguns patrícios portugueses resolveu de súbito com eles sair às ruas ao som de zabumbas e tambores dar uma passeata pela cidade aglomerando multidões de foliões, repetindo assim por vários anos seguintes com batidas de tambores e bombos e sempre com o tradicional: VIVA O ZÉ PEREIRA... O ZÉ PEREIRA É DO CARNAVAL...”
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