domingo, 1 de julho de 2018


A COLONIZAÇÃO HOLANDESA NO BRASIL 

NÃO FOI COMO DIZEM


Muitas são as vezes em que ouve-se dizer, no Brasil, fatos que não existem na sua história ou mesmo os distorce e acabam em bordões que não fazem sentido algum: “A culpa é do Cabral”, “Os portugueses roubaram o ouro do povo brasileiro”, “O atraso atual deve-se ao tipo de colonização adotada por Portugal”, “Os jesuítas vieram para escravizar os índios”... E o mais estranho de todos: “Se o Brasil fosse colonizado pelos holandeses, hoje seria igual aos Estados Unidos ou Europa”.


A bem da verdade, os brasileiros são na maioria alienados pelo sistema educacional anticatólico e antiportuguês. Essa afirmação sobre os holandeses mostra um total desconhecimento da sua história ou interpretação errada, e vezes, com interesses escusos para evitar as verdades. 
Os holandeses eram praticamente piratas, e fizeram o nordeste brasileiro virar um inferno durante os 30 anos que estiveram no Brasil. O povo se revoltou tanto contra as atrocidades deles que pegaram em armas e expulsaram esses piratas invasores na famosa batalha de Guararapes.


Os brasileiros geralmente afirmam que a colonização holandesa, mesmo comparando com as outras colônias europeias da região, foi melhor do que a portuguesa. Terá isto sido realmente verdadeiro? Ou será que não passa de uma fantasia que alimenta o desconhecimento.

É bem curioso quando falam da colonização holandesa, ocorrido entre 1630 e 1654 e exaltam a figura de Maurício de Nassau, que governou e nomeou estas regiões de “Nova Holanda”. Mais ainda, ostentam em frente ao Palácio do Governo de Pernambuco a sua estátua (foto) numa praça estranhamente batizada de “República”.

Maurício de Nassau
Praça da República – Recife - PE

Antes da fantasia romântica, é necessária uma análise da forma como ocorreu esta colonização. Há de se colocar como primordial a guerra luso-holandesa. Ou seja: a Holanda estava a aproveitar de forma suja e oportunista a fraqueza de Portugal sob possessão da Espanha (1580 a 1640) ao atacar todos os pontos do seu império marítimo. Certamente isto influenciou de alguma maneira a colonização holandesa, afinal a sua estratégia era formar uma base militar bem no meio na zona de conflito. Mas para isso seria necessário a construção de estradas, pontes e fortificações para movimentação e manutenção de suas tropas. Sim, a Holanda investiu de fato na região e por que não dizer que até houve algum desenvolvimento por menor que seja. Mas, tem que se levar em consideração que este desenvolvimento no território brasileiro tinha, acima de tudo, fomentar e satisfazer os esforços de guerra do governo holandês.

                                                               Invasão holandesa em Pernambuco


As más línguas desprovidas de conhecimento argumentam que a colonização holandesa foi melhor que a portuguesa devido a uma tolerância com os nativos. Mas esta afirmação desaba quando esquece que os Jesuítas estavam bem a frente desenvolvendo iniciativas de proteção dos índios. Vê-se nitidamente na história que foram os Jesuítas, durante muitos anos, a barreira que impedia a destruição dos povoamentos indígenas.  


É importante ressaltar que os fatos mostram que o governo holandês não estava interessado no desenvolvimento de uma possível colônia holandesa no Brasil. O ápice do seu plano invasor era transformar a “Nova Holanda” numa base militar. Esse interesse holandês era tão estapafúrdio que o próprio governador desta colônia, Maurício de Nassau, não concordou e foi contra esses intentos. Decidiu, por conta própria desenvolver economicamente a “Nova Holanda” dotando-a de infraestruturas materiais compatíveis com o local.
Essa ousadia lhe custou o cargo de governador. Foi demitido, pelo governo holandês, por incompetência. Sim, os registros mostram a palavra “incompetência”, afinal, as ordens eram para fortificação militar a qualquer preço e não o desenvolvimento econômico. 

Maurício de Nassau

Uma questão pertinente que não pode ficar esquecida é o método de colonização normalmente adotado pelos holandeses: “exploração intensiva e abusiva”. Os lucros eram 100% revertidos para a metrópole Holanda onde fez fortuna obscena em terras que não eram suas. A colônia nada recebia em troca.
Alguns menos informados afirmam que Portugal “roubou” o ouro do Brasil – mesmo este ser terras portuguesas. São esses desprovidos de conhecimento histórico que ocultam a grande riqueza das capitanias do centro-sul do Brasil. Foi esse ouro o responsável pelo desenvolvimento do Brasil na época. Somente uma parte desse ouro chegou efetivamente a Portugal, um quinto. É fácil atestar para onde foram os outros 80%. Foi a infraestrutura e a construção de inúmeros edifícios que fizeram a constituição do Brasil um território articulado, coerente e desenvolvido.
Ao contrário, a Holanda retirava os altíssimos lucros dos principais recursos e canalizava-os exclusivamente para si e aplicava-os em nada referente as suas colônias.

Mesmo levando um pontapé no traseiro, na batalha dos Guararapes, os holandeses não insistiram no território brasileiro porque encontrou terras mais lucrativas nas Antilhas, algo que prejudicou e atrasou o ciclo de açúcar brasileiro.

                                                                    Batalha dos Guararapes

Oras, se fosse verdade que a Holanda realmente tinha interesses em agradar o Brasil, como alguns defendem, por que razão abandonou após encontrar terras economicamente mais promissoras?

A resposta é óbvia e conclusiva: “A Holanda não tinha uma ligação cultural e civilizacional profunda com o território brasileiro, apenas uma conveniente e estreita ligação económica”.


Urge se inteirar e interpretar melhor a história antes mesmo de divulgar ou disseminar falácias.

Luiz Gonçalves


segunda-feira, 4 de junho de 2018

A ESPANHA NÃO É UMA VERSÃO ROMÂNTICA


Ainda há aqueles que acreditam que o regime monárquico espanhol não passa de uma versão romântica. São esses vulgos cientistas políticos de porta de bar que insistem na afirmação que o atual Rei da Espanha vem da história ou dos direitos dinásticos.



Oras... Se colocarem o cérebro para funcionar irão perceber que a legitimidade formal do Rei da Espanha advém da sua Constituição, do plebiscito de 1978, que deixa explícito por uma maioria de 92%, os espanhóis preferirem uma monarquia estável a uma república de poderes transitórios.
O texto constitucional espanhol é bem claro, e por que não dizer “democrático”? De antemão não há sequer uma reserva formal quanto a “forma de governo”. O que, tecnicamente, o Parlamento espanhol pode, sim, proclamar a república se houver uma maioria constitucional para isto. O que fica óbvio não necessário um golpe de Estado. Também está na Constituição espanhola, estabelecido no artigo 57, que a sucessão da coroa é através da família de Juan Carlos e não faz referência às leis dinásticas da Casa de Borbón. Portanto, a Constituição revogou os direitos dinásticos estabelecidos antes de 1978. Aliás, na ausência de sucessão direta do rei Juan Carlos, a Constituição diz que o novo monarca seria escolhido pelo Parlamento e não pela Casa de Borbón. E, para concluir, o artigo 61 deixa muito claro que o rei é proclamado perante o Parlamento, sendo, pois, investido no seu poder moderador pelas Cortes Gerais. Isto quer dizer que, se as Cortes Gerais não agendarem a proclamação do novo monarca, não há novo monarca. E no artigo 74 regula o funcionamento das Cortes Gerais, ou seja: as sessões conjuntas do Congresso e do Senado, mas em nenhum momento obriga à proclamação do novo monarca. Também não cita que os partidos republicanos estejam proibidos. Eles existem e tem representação parlamentar. Se a legitimidade formal do rei tem origem na Constituição democraticamente referendada, então a legitimidade política do rei depende da opinião pública. E, nessa perspectiva, não há grande diferença entre o Rei espanhol e o Presidente da República Portuguesa. Então, onde é que está a tal versão romântica?
Há, sim, para os republicanos portugueses a tal versão romântica quando se curvam aos Chefes de Estados monárquicos como cordeirinhos. Isto porque se sentem inferiores por saberem que a sua república não foi o resultado de uma aclamação popular. A “República Portuguesa” assume “Portugal” através de um golpe de Estado com sangue e sem legitimidade. Cozinha em banho-maria até 1974 onde sacramenta, nos festejos de 25 de abril, o artigo 288 da Constituição, que a “forma republicana de governo deve ser respeitada”. Como assim? O povo não pode escolher a sua forma de governo? Sim, num simples artigo da Constituição fica reinstalada a “fake democracy”.
Os republicanos portugueses se armam de falsos argumentos para impedir que o seu povo passe a pensar. E, pior: criticam o regime de governo do vizinho chamando-o de versão romântica. Seria uma versão romântica dar estabilidade a Nação, criar fatores que aumentem a economia, diminuir o desemprego e proporcionar melhor qualidade de vida aos espanhóis? É óbvio que isto não se chama “versão romântica”.
Esses republicanos fumadores de erva estragada, que se julgam cientistas políticos, ainda não perceberam que os monárquicos portugueses não querem a simples mudança da “forma de governo” da República Portuguesa. O que querem é ter Portugal de volta. E, não venham questionar de como seria a Constituição, porque a atual não foi referendada. Aliás, nem sequer esta república é legítima, porque também não foi referendada, não teve a aclamação popular. Temem em substituir, na maldita constituição, o termo “forma republicana” por “forma democrática”, no seu artigo 288. Temem que os portugueses façam cumprir-se Portugal. 
Versão romântica... só faltava essa.
Luiz Gonçalves
(Em apoio a matéria de 13/02/2018 – DN-Portugal)